quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O crente deve se isolar do mundo para viver em santidade?


Muitos cristãos costumam fazer uma nítida diferenciação entre as “coisas” do mundo e as de Deus. Por vezes a seleção do que vem a ser do mundo é baseada em critérios um tanto bizarros, como os nomes de marcas de produtos ou a suposta origem pagã das mais diversas formas de expressão popular, desde vocábulos até festas culturais. Não quero afirmar que se deve aceitar tudo de forma imparcial ou coadunar com práticas claramente antibíblicas unicamente por serem peculiaridades de uma cultura específica. Mas o fato a ser observado é que por muito pouco, às vezes por pura criatividade, cristãos abominam costumes, músicas, regionalismos e muitas outras supostas coisas do mundo, deixando de absorver o que há de bom do lado de fora de seu contexto religioso.

Felizmente, a própria Bíblia nos precaveu contra os possíveis abusos que poderíamos cometer em nossa busca por santidade. Paulo, em 1 Ts 5:21, nos orientou a examinarmos tudo e retermos o que há de bom. Esse breve ensino contém bem mais que as poucas palavras nele usadas pelo apóstolo. O mundo de fato é mau (1Jo 2:15) e jaz no maligno (1Jo 5:19), mas serão esses textos bíblicos, entre outros que trazem a mesma perspectiva negativa do mundo, a justificativa para excluir o mundo, que está lá fora, de nosso convívio? Mais séria que essa questão é a seguinte: Será que algum cristão que acha que os crentes devem se abster do mundo vive realmente dessa maneira?

Para ambas as perguntas a resposta é NÃO. Nem é preciso aprofundar-se nestes pontos, pois é doutrina elementar nas escolas dominicais e estudos bíblicos para neófitos. Em resumo, o que devemos evitar é a contaminação com os valores do mundo. O fato é que é praticamente impossível não depender de alguma forma do que o sistema reinante no mundo tem a nos oferecer. Alguém mais radical que opta por ouvir apenas músicas religiosas deveria vestir apenas roupas feitas por crentes, com fios oriundos de fábricas cristãs cuja matéria-prima fosse originada de produtores cristãos. Essa é, definitivamente, uma perspectiva completamente absurda!

Todo esse arrodeio até aqui, caro leitor, é para dizer algo simples e óbvio, mas muitas vezes mascarado pela religiosidade de alguns crentes ditos espirituais. Não há nada no mundo que seja impuro por essência, mas tudo depende do uso que se faz e da motivação do coração. Striptease não é um ato pecaminoso, mas se você vai a boates ver mulheres vendendo seus corpos a prática então se torna pecaminosa. Igualmente, ler livros seculares, seja de ateus ou de autores de outra religião qualquer que não o cristianismo não se configura em pecado. Pecado é não ler por preguiça.

Se em você, que lê este breve artigo, ainda resiste algum resquício de preconceito para com qualquer “coisa do mundo”, tente, antes de emitir julgamento, avaliar se há algo bom a se extrair para sua vida. Mas este é um conselho apenas para os cristãos sinceros. Alguém que decide envolver-se com o pecado a pretexto de extrair algo bom está pecando desde o início e não apresenta a marca do cristão converso e arrependido.

Eu sinto falta de ouvir sermões que citem pessoas famosas de nosso tempo que venceram por vivenciarem princípios bíblicos, mesmo que não tivessem consciência disso. Sinto falta de ouvir trechos de escritos de autores não cristãos que confirmem a veracidade da mensagem cristã até mesmo entre os incrédulos. Gostaria de ouvir o “Tente Outra Vez” de Raul Seixas numa perspectiva cristã, ou uma pregação que estivesse entremeada por citações de filósofos ou personagens de referência de nosso tempo, cristãos ou não. Há muita coisa boa no mundo que nós ainda não aprendemos a reter e, por isso, na tentativa de sermos mais santos acabamos, sem perceber, deixando de seguir o conselho que a própria Bíblia nos dá.

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